Conhecido por funk pesado, MC Lan diz que inspiração vai de Nina Simone ao pastor Valdemiro

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2018 14h03
Johnny Drum/Jovem Pan Funkeiro contou os planos da carreira na bancada

Com a explosão de hits como Rabetão, Xanaína, Open the Tcheka, Sua Amiga eu vou Pegar e Grave Faz Bum, MC Lan  se tornou um dos expoentes do controverso “funk ousadia”, movimento que usa o humor para fazer referências a termos com conotação sexual. E o sucesso não veio do nada. Para construir sua identidade e conquistar o grande público, o cantor ouviu artistas dos mais variados gêneros, de Bob Dylan a Nina Simone, e ainda estudou a dialética de personalidades de áreas fora da música. Locutores de rodeio e pastores evangélicos, como Valdemiro Santiago, por exemplo.

A declaração aconteceu em entrevista ao Pânico nesta quarta-feira (28) quando o convidado foi questionado sobre o preconceito que parte da sociedade insiste em ter com seu estilo.

“Se as pessoas imaginassem como somos parecidos, não debateriam tanto. Temos os mesmos ídolos. Ouvimos Bob Dylan quando estamos tristes. Teve uma época que eu ouvia rock. Outra época ouvia Afrika Bambaataa. Para construir o MC Lan teve muito trabalho. Vocês não sabem o tanto de Valdomiro Santiago que assisti. Percebi que os pastores tinham um poder falando com as pessoas. O poder da palavra. É a mesma coisa dos caras no rodeio. Entendi que esse estudo seria uma chave para chegar. Não tenho o dom que a Ludmilla, por exemplo, tem. Mas, pelo menos, consegui estudar as formas para chegar onde queria”, declarou.

“Para a maioria das minhas músicas me inspirei na Nina Simone. Parece que falo essas coisas para parecer inteligente, mas não é (risos). Ouço mesmo. Sei lá, mano. Tento trazer o clima dessas pessoas para minhas músicas, só que falando do meu jeito. O Marvin Gale falava de sexo, só que da maneira dele. Um dia vão me entender (…). Acho que nunca existiu um cara assim da favela que canta funk e se comunica com o favelado, o playboy e o nerd. Criei o Lan para quebrar barreira. Foi tudo pensado e friamente calculado. Por isso tatuei ‘maquiavélico’ nas minhas costas”, completou.

A palavra citada pelo artista surgiu pela primeira vez no livro O Príncipe, obra histórica do filósofo francês Nicolau Maquiavel que analisou as estruturas de poder do século XVI. Obra da qual, por sinal, ele, apaixonado por leitura, é um admirador.

“O primeiro cara que me deu um livro foi um idiota na loucura da quebrada. Eu morava na rua e ele falou ‘olha, não tenho muita coisa para te dar’. Mas ele tinha na bolsa um livro do Senhor dos Anéis. Falou ‘sempre que sentir fome, acende um cigarro e lê que você vai esquecer’. Um dia eu estava com fome e li. Nem lembrei da fome! É um bom jeito de esquecer os problemas. Hoje o que mais faço é ler, escutar discos, pesquisar filmes. Se eu mostrasse quem sou de verdade, não ia vender tanto. Morei na rua, fui preso, isso virou meu marketing. Se o mundo soubesse que tem coisas melhores para ser valorizadas… Se soubesse como é ‘daora’ ouvir um álbum do Pink Floyd inteiro e brisar…”, disse.

O cantor acaba de fechar um contrato com a Warner, gravadora com a qual lançará músicas e videoclipes novos nos próximos meses. E o público já pode esperar por surpresas: embora garanta que não deixará sua essência para trás, ele pretende investir em outros gêneros, incluindo o reggaeton e o pop. A primeira parceria será com a drag queen Pabllo Vittar. “Vou soltando as músicas e os clipes para ver no que dá. Vou pagar de louco”, concluiu.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.